Há muito tempo atrás, quando cheguei a Xiangyang,
havia apenas começado a deixar crescer o bigode.
Agora, de novo em Xiangyang,
já tenho as patilhas e o bigode grisalhos.
Todas as memórias daquela viagem são hoje um sonho:
chegara apressado, e cheio de pressa ao lar retornei.
Aquela casa com telhado de palha, a este da muralha,
meio desfeita - quem nela agora habita?
A maior parte dos velhos amigos dispersou-se
e desapareceu. Até a povoação mudou de lugar.
Apenas as águas outonais do rio,
cobertas pela neblina, ondulam como outrora.
Bai Juyi (774 - 846)
(Versão de Pedro Belo Clara a partir da versão inglesa proposta por Burton Watson.)
(*) Xiangyang situa-se na província chinesa de Hubei, embora já não exista com total individualidade. Tendo sido unida à cidade (Fancheng) da margem norte do rio que a ambas servia de fronteira, dá hoje pelo nome de Xiangfan. Onde em tempos dois pólos se ergueram, actualmente um só prevalece.
O pai do poeta viria a falecer em Xiangyang no ano de 796, no posto oficial local. A "velha casa" que o poema refere seria, por ventura, uma antiga habitação familiar, embora Bai Juyi não dê a entender que ele tenha nela feito residência. O rio que nos planta a imagem final do poema é o Han, que como já se sabe atravessa nos dias de hoje a nova cidade de Xiangfan.
(Muralha da antiga Xiangyang, sobranceira ao rio Han)
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