domingo, 6 de agosto de 2017

BANQUETE DE UMA NOITE DE PRIMAVERA NO JARDIM DOS PÊSSEGOS E DAS AMEIXAS



O céu e a terra são o albergue de passagem de todas as coisas. O tempo é o hóspede em trânsito de todas as gerações. Que alegrias podemos ter, se flutuamos na vida como num sonho?

Boas razões tinham os antigos para, empunhando tochas, até a noite aproveitarem para viajar. Quanto mais quando a primavera solarenga nos atrai com as suas paisagens esfumadas e a natureza nos seduz com o bordado da sua escrita!

Reunimo-nos no perfumado Jardim dos Pêssegos e das Ameixas para discorrer sobre as alegrias da divina fraternidade. Todos os meus irmãos são talentosos e belos, todos são Huì-lian (¹). Cantamos e recitamos as nossas poesias e sou eu o único que devo sentir vergonha perante Kàng Lè (²).

O gozo sereno da paisagem deste jardim nunca termina, discorrendo sobre temas elevados que se vão tornando cada vez mais transparentes.

Desenrolamos esteiras requintadas e, sentados entre as flores, passamos taças de vinho e embriagamo-nos sob a lua.

Se não fizermos boas obras, como poderemos revelar os nossos sublimes pensamentos?

Se alguém houver que não seja capaz de escrever um poema, terá de ser castigado segundo as regras do Jardim Jin-gu (³), pagando uma multa de três copos de vinho.




Li Bai (701 - 762).






(Traduções de Cláudia Ribeiro e de Zhang Zhèng-Chun in "O Rosto do Vento Leste - Doze textos de prosa clássica chinesa", Assírio & Alvim, 1993)




(1) Xiè Huì-lián foi um escritor precoce que viveu durante o período das Dinastias do Sul. Aos dez anos de idade já compunha poemas de considerável valor. Foi discípulo de Xiè Líng-yún.


(2) Outro nome pelo qual o mestre antes referido era conhecido.


(3) O nome do jardim onde Cháng-jián organizava banquetes para os convidados comporem versos. 








(Li Bai brindando à lua)