sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Cinco pensamentos de R. Tagore, considerando sobre o fim da sua vida


I.

O que o amor dá, não pode ser dado;
só é aceite.


II.

Deixo as minhas canções 
às flores da madressilva que sempre retornam
e à alegria do vento do sul.


III.

Quando a morte chegar e me sussurrar:
«Os teus dias chegaram ao fim»,
vou dizer-lhe: «Vivi em amor
e não no tempo.»
Se ela perguntar: «E as tuas canções sobreviverão?»
Responderei: «Não sei, mas de uma coisa tenho a certeza,
é que quando canto, encontro a minha eternidade.»


IV.

Quando a voz do Silêncio toca as minhas palavras,
conheço-te e, assim, conheço-me também.
As minhas últimas saudações são para aqueles
que me conheceram imperfeito e me amaram.


V.

Antes do fim da minha jornada,
que eu possa chegar dentro de mim mesmo
àquilo que é tudo,
deixando o invólucro da pele
ir flutuando à deriva com a multidão
na corrente do acaso e da mudança!



Rabindranath Tagore (1861 - 1941) 






(Selecção de Pedro Belo Clara a partir das traduções de Joaquim M. Palma in "A Asa e a Luz" (Assírio & Alvim, 2016)).







segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

CANÇÃO XVI


Entre os pólos do consciente
e do inconsciente, a mente
esboçou um movimento.

A partir de então, ampara
todos os seres e todos os mundos 
- tal movimento nunca cessa
de se mover.

Milhares de seres aí se encontram:
o sol e a lua e seus rumos.
Milhares de eras passaram,
mas o movimento continua.

Tudo se move. O céu e a terra,
o ar e a água - Deus, ele próprio
tomando forma.

Tamanha visão converteu Kabir
num servidor.



Kabir (1440 - 1518)




(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Rabindranath Tagore, em "Songs of Kabir" - 1915).